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Cartas ao Mercado

O mercado imobiliário no pós-pandemia: complexidade e transformação não faltarão

18/04/2022
Cartas ao Mercado

O mercado imobiliário no pós-pandemia: complexidade e transformação não faltarão

18/04/2022

O mercado imobiliário no pós-pandemia: complexidade e transformação não faltarão

Em março passado completamos dois anos da pandemia!
Apesar de não estarmos totalmente livres do Coronavírus é razoável dizer que estamos num outro momento em que as atividades presenciais já podem voltar (e estão voltando com força). Com isso, podemos começar a especular com mais propriedade sobre o que será o período pós-pandêmico e que desdobramentos teremos sobre os mercados imobiliários no Brasil. Trabalho remoto, comunicação à distância, comércio eletrônico e serviços de entrega marcaram fortemente o viver de milhões de pessoas. Durante a pandemia os custos da proximidade explodiram e os benefícios foram esmagados. Ter que ficar dentro de casa fez muita gente repensar características e localização de suas residências. Não poder ir ao escritório abriu novas perspectivas residenciais (por que não mudar de cidade de tempos em tempos? Por que não morar em um lugar paradisíaco?). Com uma perspectiva mais macro, desafios enormes colocam a humanidade mais uma vez na encruzilhada. Tentarei sintetizar minha visão sobre o tema em torno de três dimensões:


Minha casa, meu reino: antes da pandemia estávamos observando uma forte tendência de compactação dos apartamentos que combinada com um pacote de serviços de administração da habitação tinha como proposta fazer você não se preocupar com sua residência uma vez que passava muito pouco tempo nela. Trabalho, lazer e acesso à serviços eram cada vez mais atividades fora do domicílio. A pandemia mudou isso radicalmente e, passado o pior, temos a oportunidade de repensar o morar. O que se percebe é que, se poder voltar a viver os espaços públicos é muito bom, a sensação de que ter o seu canto, com o seu
jeito, seguro e confortável está no topo das prioridades. No final das contas, se preocupar e cuidar da sua casa pode não ser um incômodo.

Lição para o mercado imobiliário: Os impactos sobre os desejos do que ter em uma residência devem ser vários. Certamente ter mais espaço, permitir maior privacidade e ser mais eficiente nas relações com o mundo digital e do delivery entram com força no imaginário do consumidor.

Nova geografia urbana: Agora que podemos voltar aos bares, restaurantes, cinemas/teatros/shows/exposições, festas e aos escritórios, os balanços entre custos e benefícios estão mudando (custos menores e benefícios maiores). A pergunta importante é: em que medida voltaremos ao que tínhamos antes? O que já sabemos é que gostaríamos de manter muito das conveniências do
trabalho remoto e da vida digital. Por outro lado, ainda não sabemos o quanto de experiências ou rotinas presenciais gostaríamos de ter de volta. Este será um ano de muita experimentação e só ao longo dos próximos veremos como a geografia urbana será reconfigurada. Minha aposta é que as grandes cidades continuarão pujantes e centrais, mas que ao mesmo tempo muitas outras possibilidades serão viabilizadas.

Lição para o mercado imobiliário: as boas localizações continuarão boas, mas muitas outras regiões atrativas devem emergir.

O mundo lá fora e a bifurcação: O conceito de bifurcação nos alerta que de tempos em tempos nos encontramos em momentos cruciais, quando a depender das escolhas realizadas podemos seguir caminhos muito diferentes. O pós-pandemia é certamente mais um desses. Após o enorme sucesso dos esforços coletivos que giraram em torno das descobertas das vacinas e campanhas de vacinação, imaginávamos que viveríamos um período glorioso. Infelizmente, nossa capacidade de enfrentamento
dos enormes desafios que se apresentam está sendo posta a prova. Primeiramente, a pandemia desestabilizou cadeias globais de valor que ainda não se recuperaram plenamente e cujos efeitos colocam em questão as interdependências entre países. Em segundo lugar, a guerra na Ucrânia, além de todo o inaceitável drama humanitário, alertou o mundo para instabilidades geopolíticas.
Finalmente, mas certamente não menos importante, as evidências de que as mudanças climáticas estão atingindo níveis alarmantes (nos aproximando de situações irreversíveis) estão aumentando e ainda não está claro o quanto conseguiremos reagir. Os resultados de tudo isso são no momento muita incerteza e um processo inflacionário resistente e espalhado por muitos países. No curto prazo, o Brasil encontra-se vulnerável combinando alta inflação com atividade econômica fraca e incertezas eleitorais.

Lição para o mercado imobiliário: devemos ter um ano bastante difícil, com fracos impulsos macro. Mas lembro que contexto de incerteza alta sempre estimula o investimento em ativos percebidos como seguros, onde os imóveis têm destaque. Mais adiante, ações relativas à mudanças climáticas têm muito potencial de reconfigurar os mapas de risco e retorno do mercado imobiliário.

Colocando tudo isso junto temos um cenário de extrema complexidade e repleto de incertezas com naturezas e magnitudes diversas. A certeza que temos, entretanto, é que muitas mudanças estão a caminho. Sabemos que as preferências e possibilidades do consumidor estão em evolução e que as oportunidades continuarão a se materializar nas dimensões microeconômicas (localização e tipologia). A boa notícia é que o amadurecimento da atividade imobiliária acelerou muito após a pandemia: temos melhores produtos e serviços, entramos para valer no mundo digital e os profissionais estão investindo muito mais em conhecimento e ferramentas analíticas. Estamos no caminho certo e muito mais preparados para apoiar nossos clientes nas suas decisões nestes tempos turbulentos. E você faz parte disso!

Grande abraço,

Danilo Igliori
VP Economista Chefe do ZAP+

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